Nanã pediu a Oxalá que lhe desse um filho, o que Ela não sabia é que em outra ocasião, bebera com Oxalá o suco de ìgbìn, que é o próprio sêmen do Orixá.
Logo, passou a ter o mesmo sangue de Oxalá, o que fez com que Omulu nascesse todo deformado.
Desgostosa com o aspecto do filho, Nanã o abandonou na beira da praia, para que o mar o levasse.
Um grande caranguejo encontrou o bebê e atacou-o com as pinças, tirando pedaços de sua carne.
Quando Omulu estava todo ferido e quase morrendo, Iemanjá saiu do mar e o encontrou.
Penalizada, acomodou-o numa gruta e passou a cuidar dele, fazendo curativos com folhas de bananeira e alimentando-o com pipoca sem sal nem gordura até que o bebê se recuperou. Então Iemanjá criou-o como se fosse seu filho. Mas Omulu ficou com o corpo cheio de cicatrizes, as quais eram tão feias que o deixavam com vergonha. Compadecido, Ogum lhe deu uma roupa de palha da costa, que cobria todo seu corpo, ficando de fora apenas seus braços e pernas, que não foram tão atingidos pelas cicatrizes. E assim cresceu Omulu, coberto de palhas, taciturno, compenetrado e, por vezes mal-humorado.
Quando rapaz resolveu correr mundo para ganhar a vida. Partiu vestido com simplicidade e começou a procurar trabalho, mas nada conseguiu.
Por todos os lugares que passava, as pessoas se assustavam com sua figura coberta de palhas e nada lhe davam.
Logo, começou a passar fome, nem sequer uma esmola lhe davam. Omulu decidiu então embrenhar-se na mata, onde se alimentava de ervas e caça, tendo por companhia um cão e as serpentes da terra. Ficou muito doente.
Por fim, quando achava que ia morrer, Olorum curou as feridas que cobriam seu corpo.
Agradecido, Ele se dedicou à tarefa de viajar pelas aldeias para curar os enfermos e vencer as epidemias que castigaram todos que lhe negaram auxílio e abrigo. Nesses momentos, Obaluaiê dizia às pessoas que jamais negassem água e alimento a quem quer que fosse, independente de sua aparência.
Chegando de viagem, Omulu viu que estava acontecendo uma grande festa com a presença de todos os Orixás. Devido à sua timidez e vergonha, decidiu ficar do lado de fora espreitando pelas frestas do terreiro. Ogum, percebendo a angústia do irmão, convidou-o para entrar e aproveitar a alegria dos festejos. Apesar de envergonhado, Omulu entrou, mas ninguém se aproximava dele.
Iansã tudo acompanhava com o rabo do olho. Ela compreendia a triste situação de Omulu e dele se compadecia. Iansã esperou que Ele estivesse bem no meio do barracão.
A festa estava muito animada. Os Orixás dançavam alegremente com suas equedes. Iansã chegou então bem perto dele e soprou suas roupas de palha, levantou-lhe as palhas que cobriam sua pestilência.
Neste momento de encanto e ventania, as feridas de Omulu pularam para o alto, transformadas numa chuva de pipocas, que se espalharam brancas pelo barracão.
Omulu, o Orixá das doenças, transformara-se num jovem, num jovem belo e encantador.
Omulu e Iansã tornaram-se grandes amigos e reinam juntos sobre o mundo dos espíritos dos mortos, partilhando o poder único de abrir e interromper as demandas dos mortos sobre os humanos.