Este itan de Logunedé, o Príncipe dos Orixás, conta a história de quando ele era um caçador solitário e infeliz, mas orgulhoso, pois era filho de Oxossi e Oxum. Era um caçador pretensioso e ganancioso e muitos o bajulavam pela sua formosura.
Um certo dia, o Orixá Oxalá conheceu Logunedé e, então, decidiu levá-lo para que vivesse em sua casa, sob sua proteção. Deu a ele companhia e, além disso, sabedoria e compreensão. Mas Logunedé era ganancioso , por isso, queria mais, muito mais.
Confiando no aprendiz, Oxalá deixava seus segredos à mostra, pois acreditava na honestidade de Logunedé. Logunedé, no entanto, deixou sua ganância falar mais alto e, assim, roubou os segredos. O caçador guardou seu furto num embornal a tiracolo, deu as costas a Oxalá e, então, fugiu.
Não tardou para que Oxalá se desse conta da traição do caçador. Oxalá, então, usando de todos os seus conhecimentos, fez todas as magias, oferendas e firmezas que cabia fazer. Muito calmamente, ele, então, sentenciou que toda a vez que Logunedé usasse um dos seus segredos todos haveriam de dizer sobre o prodígio: “Que maravilha o milagre de Oxalá!”. Mas, além disso, toda vez Logunedé usasse seus segredos, alguma magia não roubada iria lhe faltar.
Oxalá imaginou o caçador sendo castigado, mas, inconformado, compreendeu que o castigo não era suficiente para aquele caçador presunçoso e ganancioso, acostumado, assim, a angariar bajulação. Por isso, Oxalá determinou também que Logunedé perdesse as habilidades da caça na metade de cada ano, sendo, assim, obrigado a ficar nos rios, apenas pescando. Além disso, na outra metade do ano, ele perderia as habilidades de pesca, sendo, assim, obrigado a ficar apenas nas matas, caçando.
Nunca haveria assim de ser completo. Parte do tempo habitaria a floresta vivendo de caça, e noutro tempo, no rio, comendo peixe. Começar sempre de novo era sua sina. Mas a sentença era ainda nada para o tamanho do orgulho de Logunedé.
Assim, para que o castigo durasse por toda a eternidade, Oxalá fez de Logunedé um Orixá.